Guiar para fora? Alta performance? Talvez você tenha achado o título esquisito, mas você verá que tem sentido e coerência.
No dia 16 de maio de 2018 falei sobre A Sociedade Digital e seus Impactos nas Corporações no 21º Congresso Mega Brasil de Comunicação, Inovação e Estratégias Corporativas. Encerrei a palestra falando sobre os desafios atuais das organizações, divididos em três pilares: Comportamento, Educação e Human to Human (H2H).
Entendo que comportamento é feito de visão, trabalho e relacionamento. Human to Human é o humano antes do capital humano. Educação é criatividade. Este último pilar é o mais importante de todos e traz equilíbrio entre eles.
( Latim EDUCARE que é uma derivado de EX, que significa “fora” ou “exterior” e DUCERE, que tem o significado de “guiar”, “instruir”, “conduzir”. Ou seja, em latim, educação tinha o significado literal de “guiar para fora”)
Basta ler a raiz da palavra educação para reflexão: Nós somos educados ou doutrinados?
Educar é permitir a exploração, usar a criatividade e experimentos “malucos”. Doutrinar é impor, fomentar a cópia e repetição. Portanto, nos dias de hoje é mais comum a doutrina a educação.
Desde pequenos nós somos ensinados na base de comando e controle, o famoso bate e assopra. Alguém dizia o que fazer como uma verdade absoluta e era preciso seguir a ordem com veemência, sem tempo para contestar. Questionamentos e erros eram inadmissíveis, passivos de retaliações e castigos. Era assim dentro de casa, na escola, encontros religiosos, universidade e trabalho.
Comando e controle nas organizações
Invariavelmente a cultura e gestão do medo se espalhou pelas organizações. Estruturas hierárquicas e paternas são conduzidas a base de adestramentos técnicos e quase nunca comportamentais. Permitir, por exemplo, que funcionários expressem suas opiniões ou questionem algo é simplesmente inviável.
Por outro lado, as pessoas se acostumaram com o sistema produção/remuneração. Produzir aquilo que foi pedido, mesmo sem entender qual impacto dessa ação dentro do sistema e receber o salário no final do mês. Este ciclo é ensinado desde os primeiros anos dentro das escolas: copiar, colar, decorar e ganhar nota no final.
Essa filosofia dentro das empresas passou a ser questionada há alguns anos por pessoas que não se identificavam com o modelo. Estruturas horizontais e a holocracia surgiram para uma nova forma de gestão.
Criatividade é investimento
Como podemos romper com esse padrão antigo de cultura baseado no movimento mecânico, vazio de sentido?
Cursos que tragam capacitação técnica são bem-vindos em qualquer setor, no entanto, não podem e não devem ser únicos e primordiais. Investir em desenvolvimento de competências é necessário para fomentar o H2H (Humano para Humano) e criar talentos digitais.
Talentos Digitais são pessoas que sabem equilibrar de forma saudável as competências comportamentais e as capacidades técnicas.
Coaching e mentoria são processos iniciais que podem guiar qualquer sujeito para fora de si e proporcionar experiências de autoconhecimento através da transformação de consciência.
Há empresas que investem em Lego, cursos de teatro e até mesmo clown (palhaço) para estimular a criatividade de seus colaboradores. Muitas opções são bem vindas, desde que estimulem o olhar a novas possibilidades e pensar fora da caixa.
Estrutura organizacional flexível
O que acontece quando estimulamos o poder criativo de uma equipe?
Em um etapa mais avançada para a confiança entre as pessoas e a descentralização de poder através de maior responsabilidade entre as pessoas, surge a holocracia. Uma tecnologia social onde as decisões e as autoridades são divididas em holarquia de grupos auto-organizados.
Grande parte das organizações definem a sua estrutura – distribuição de poder, papéis e alocação de pessoas – de forma top-down. O problema desta abordagem é que as pessoas que possuem as informações necessárias para definir a estrutura adequada estão na linha de frente (ou na base da pirâmide hierárquica). A Holocracia define um processo de governança que permite aos círculos (times) alterarem a sua estrutura de forma progressiva e contínua.
Educação e alta performance
Guiar para fora, educar, é permitir que as pessoas se conheçam e saibam dos seus pontos fortes e vulnerabilidades, tendo espaço para criar planos de ações para desenvolvimento e aperfeiçoamento contínuo. Saber de si é ter autonomia e assumir responsabilidades e não mais dar desculpas.
Ter alta performance exige responsabilidade e autoconhecimento, até mesmo para rever os valores e propósito da empresa e ter clareza se faz sentido fazer parte desta companhia.
Alta performance não é entregar mais ou fazer em menos tempo. É estar integrado verdadeiramente em um sistema que faça sentido para a vida.
